terça-feira, 27 de maio de 2014

Zabelinha Ferraz




Por volta de 2002 eu estava trabalhando em Floresta, interior de Pernmbuco. A cidade, situa-se no encontro do rio Pajeú com o Riacho do Navio em uma região conhecida por cultivar canabis sativa; erva psicoativa ilícita.

Floresta era conhecida por relatos de violência entre seus habitantes. Duas famílias eram mencionadas como inimigas mortais, os Novaes e os Ferraz. Quando fui designado em 1999 para trabalhar na cidade como Agente de Desenvolvimento do Banco do Nordeste, confesso que senti medo; uma sensação de enorme insegurança visitou meu coração. Poucos meses antes de eu assumir o novo posto de trabalho, haviam tirado a vida do prefeito de Floresta sem justificativa.

Contava-se que se, por alguma razão, houvesse uma ofensa considerada grave, a questão era resolvida à bala. Os assassinos, para escaparem da justiça, utilizavam motocicletas e aproveitavam a obrigatoriedade do uso de capacetes para anomimamente tirarem a vida de seus desafetos.

Eram muito frequentes os crimes. Nessa situação, o juiz local teria proibido o uso de capacetes para motociclistas (inversamente ao que prescreviam normas federais) para coibir os crimes. Uma situação de tensão ocorria quando algum motociclista trafegava com capacete – isso era interpretado como insubordinação ao juiz e presságio de atentados possivelmente mortais.

Estava presente em muitas mentalidades que a violência seria o caminho indicado para resolução de querelas fortes. Alguns até seriam capazes de matar por simples contrariedade.

Além disso, as famílias das vítimas tomavam a iniciativa de “fazer justiça” com as próprias mãos. Tomavam vingança e esta recaía sobre qualquer membro da família inimiga. Em épocas de assassínios, que, por força do costume de vindita, tornavam-se assassínios em série, o clima reinante era de terror.

Um belo dia enquanto caminhava pela praça principal de Floresta, uma diretora do Instituto Espírita Caetano Coimbra, que funcionava na cidade, convidou-me a conhecer “Tia Zabelinha”. Dona Isabel era uma senhora de estatura média, que aparentava pouco mais de 60 anos.

A senhora, ao apertar-me a mão perguntou: “Você é o rapaz espírita?”. Respondi afirmativamente. Em cidades de pequeno porte em que não havia grupos espíritas até ao final dos anos 1990, as pessoas sabem bastante sobre os forasteiros. Principalmente sobre costumes e crenças diferentes das adotadas no local.

Afirmou a recém apresentada que confiava na continuidade da vida e no reencontro com os entres queridos. Mencionou que perdera dois filhos vítimas de um atentado violento, resultante de intenção de desforra. O relato da morte dos filhos estava associada a uma fé na vida porvindoura. Fé de tal forma viva que beirava à felicidade. Os breves relatos e a expressão de esperança nesse reencontro acompanhado de expressões de felicidade (na verdade um prelibar de felicidade devido à certeza do fruir do amor maternal engrandecido e purificado).

As expressões eram totalmente isentas de rancor, ressentimento ou tristeza. Não sei o que pensei. Fiquei admirado, pasmo mesmo. Os sentimentos daquela mulher eram muito superiores à minha compreensão imadiata. Não sabia o que pensar, não estava entendendo.

Posteriormente, alguns conhecidos esclareceram.

Na praça principal, funcionava uma loja de eletrodomésticos de propriedade de Isabel Ferraz. Certa feita, seus filhos Aroldo e Romero encontravam-se trabalhando no estabelecimento. Um cidadão passava nas proximidades da loja, quando foi morto por um tiro. Não se sabia de onde havia partido o disparo. Alguns supunham que teria se originado da loja e que o autor seria um dos filhos de Dona Isabel.

Algum tempo depois, um grupo de homens encapuzados equipados com escopetas calibre 12 adentraram à loja e dispararam contra Aroldo e Romero. O resultado foi mortes imediatas e desfiguração dos rostos de ambos devido a abundância dos disparos.

Neste dia, a mãe das vítimas encontrava-se em Recife, quando recebeu a trágica notícia. Sua alma recebeu, obviamente, terríveis, penosos e inimagináveis abalos. Sua dor foi superlativa. Para nossa perplexidade, apesar de nascida e criada em um ambiente de violência e cuja mentalidade de justiça restringia-se à vingança desapiedada e inflexível, Dona Isabel tomou de um lápis, um papel, permaneceru de pé, e grafou, imediatamente:

Deus mais uma vez me tomou em suas mãos fazendo-me passar pelo fogo do sofrimento! Mas, não me queixo!... Só ELE, o grande Pai, sabe por que está me submetendo a este tratamento tão doloroso! Só ELE sabe do que preciso para meu crescimento espiritual! Eu confio no PAI! Eu me entrego totalmente ao tratamento que for necessário à minha alma, pois o nosso espírito tem que ser fortalecido e como nas doenças do corpo se torna muitas vezes necessário um tratamento rigoroso, assim também nossa parte espiritual se engrandece e se torna mais forte quando submetida a dores que nos parecem insuportáveis!

Maior, porém, do que esta dor, é a FÉ inabalável que tenho de que suportando-a com paz, sem revolta, sem abrigar no meu peito o mínimo desejo de vingança contra aqueles que cruelmente os roubaram o direito de viver é a certeza que tenho que Deus e Nossa Senhora os tomarão em suas mãos e perdoando suas faltas lhes dará o carinho, o amor, que transbordam do meu coração! Que vocês tenham almas gererosas que os ajudem a se desligar das coisas terrenas e enfim desfrutar da paz dos justos. Esta paz, que embora difícil, já podemos começar a sentir mesmo aqui na terra, quando aprendemos a perdoar aqueles que nos ofendem! Considero isto o principal requisito para começarmos a sentir um pouco de paz celestial, esta paz que eu desejo, vocês possam, num período breve, chegar a sentir.

Sua maezinha aqui estará atenta a tudo, não deixando passar as oportunidades que surgirem para oferecer pela paz dos seus espíritos. …..” Este texto foi publicado no DIÁRIO DE PERNAMBUCO em 31-agosto-1993.

Ao chegar à Floresta, D, Isabel reuniu a família e com uma grande autoridade moral proibiu vingança. Todos aquiesceram; todos seguiram o caminho do perdão.

Algum tempo depois, após a polícia já ter encerrado as buscas pelo assassino da primeira vítima (aquela vítima cujo assassinato levantou suspeitas contra Aroldo e Romero). Quando já tudo estava esquecido, um homem apresentou-se à polícia, certamente tomado de remossos profundos, e confessou que não foram Aroldo e Romero que tinham assassinado o transeunte e sim ele próprio . Tinha se acomodado em uma casa próxima, em um primeiro andar; a partir dessa posição, próxima à loja alvejara o homem.

D. Zabelinha como a chamavam os familiares tinha sentido a dor pela perda de dois filhos inocentes. A mesma dor que Maria de Nazaré sentiu ao contemplar as violências inauditas que cometeram contra o meigo Jesus.

Mesmo tendo experimentado o coração estraçalhado pela perda dos entes amados, nunca deixou de cumprimentar com um sorriso os suspeitos de haverem decretado a morte dos filhos.

Desejei retornar à Floresta para revê-la. Estive lá por duas vezes mas não avistei D. Izabel, a grande alma.

Soube hoje, que no final do ano de 2013, D Zabelinha voltou para a pátria espiritual. Com certeza um retorno triunfal ao mundo das causas. Foi premiada pelo reencontro com seus rebentos queridos.

Resta a nós legionários do quilo homenagea-la, seguindo seus exemplos de grandeza realizando a campanha na região onde morou e onde deixou muitos entres queridos.

Honra à Dona. Zabelinha.


Isoláquio Mustafa Filho

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Evangelho no Lar


Os trabalhadores da campanha do quilo são chamados a realizar outras tarefas beneméritas: visitas a enfermos, a presidiários, a famílias carentes, etc.

Dentre as tarefas que somos levados a realizar quase que com obrigatoriedade temos o culto evangélico no lar. Índispensável estabelecer pelo menos um dia em que a família esteja disponível para reunir-se em horário pré determinado. Por exemplo: Sábados das 20 às 20h30. Ou outro dia e horário. Nossa sugestão – 30 minutos, assim distribuídos:

Dois minutos – prece inicial
13 minutos – leitura e comntário de uma página psicografada por Francisco Cândido Xavier – uma mensagem de Emmanuel, de André Luiz ou de Meimei, Maria Dolores...
13 minutos para leitura e comentário de uma mensagem de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
2 minutos – prece final.

Uma atividade como esta embora singela tem efeitos muito importantes e salutares. Tende a agregar a família em um ambiente de Paz e compreensão. Incentiva o respeito e carinho entre os membros da família. Conduz-nos a refletir sobre as próprias ações e pensamentos sob a luz dos conceitos cristãos. Passa, com o tempo a fornecer boas energias para o trabalho socorrista dos bons espíritos.

Podemos colocar sobre a mesa um vasilhame com água que será fluidificada pelos amigos espirituais presentes. Após a reunião os participantes beberão dessa água. Trata-se de recurso calmante e terapêutico.

Os vizinhos, sem o saberem, também receberão os benefícios das energias salutares emitidas.

Após o evangelho, evitar ligar a televisão e conversações destrutivas. Procurar, cada um prosseguir em leituras edificantes. À noite, antes de recolher-se ao leito, cada um elevará novamente o pensamento aos céus rogando a assistência de Jesus para si, para a família e para toda a humanidade.

Podemos incentivar outras famílias à realização do evangelho no lar e eventualmente ir até suas residências implantar essa bendita tarefa.

sábado, 10 de maio de 2014

Coração Maternal



Mãe, que te recolhes no lar, atendendo à Divina Vontade, não fujas à renuncia que o mundo te reclama ao coração.

Recebeste no templo familiar o sublime mandato da vida.

Muitas vezes, ergueste cada manhã, com o suor do trabalho, e confiaste à noite, lendo a página branca das lagrimas que te emanam da alma ferida.

Quase sempre, a tua voz passa desprezada, com vazio rumor (em meio a)o alarido das discussões domestica, e as tuas mãos diligentes servem com sacrifício, sem que ninguém lhes assinale o cansaço...

Lá fora, os homens guerreiam, entre si, disputando a posse efêmera do ouro ou da fama, da evidencia ou da autoridade...Além, a mocidade , em muitas ocasiões,grita festivamente, buscando o mentiroso prazer do momento rápido...

Enquanto isso, medita(s) e esperas, na solidão da prece,com que te elevas ao Alto, rogando a felicidade daqueles de quem te fizeste o gênio guardião.

Quando o santo sobe às eminências do altar, ninguém te vê nas amarguras da base, e quando o herói passa, na rua, coroado de louros, ninguém se lembra de ti, na retaguarda de aflição.

Deste tudo e tudo ofereceste, entretanto, raros se recordam de que teus olhos jazem nevoados de pranto e de que padeces angustiosa fome de compreensão e carinho.

No entanto, continuas amando e ajudando, perdoando e servindo...

Se a ingratidão te relega à sombra na Terra, o Criador de tua milagrosa abnegação vela por ti dos Céus, através do olhar cintilante de milhões de estrelas.

Lembra-te de que Deus a fonte de todo o amor e de toda a sabedoria, é também o Grande Anônimo e o Grande Esquecido entre as criaturas.

Tudo passa no mundo...

ajuda e espera sempre.

Dia virá em que o Senhor, convertendo os braços da cruz de teus padecimentos em grandes asas de luz, transformará tua alma em astro divino a iluminar para sempre a rota daqueles que te propuseste socorrer.

Pelo Espírito Meimei

Mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido XAVIER.

Do livro Cartas do Coração. Editora LAKE.