Os fatos nos foram relatados como verdadeiros.
Entrevistei Jean Michel
em sua residência, com o objetivo de ilustrar os conceitos que
seriam apresentados nas comemorações de aniversário da Escola do
Quilo de Pernambuco que ocorreram meses depois.
Nosso interlocutor
disse que havia sido padre. Encontrava-se no convento quando, certa
feita, o irmão superior o abordou transmitiu a orientação:
- Jean, escreva um artigo contra o Espiritismo.
- Como posso fazê-lo se não conheço o Espiritismo?
O orientador, passados
alguns dias entregou-lhe a Codificação Kardequiana. Jean Michel
dedicou horas a fio no estudo da coleção de livros. À medida que
lia e refletia, observou que os conceitos contidos naquelas obras
eram superiores às suas crenças. Perlustrou com interesse crescente
as páginas espíritas, até que concluiu a leitura de todos os
livros.
Em seguida leu a obra
“Roma e o Evangelho” de José Amigò Y Pellicer, publicado pela
FEB-Federação Espírita Brasileira.
Essa ultima obra
causou-lhe também viva impressão. Seu pensamento começou a receber
o impacto de grande e profunda renovação. Os conceitos consolidados
ao preço de longos esforços intelectuais recebiam um golpe fatal. A
razão contida na Doutrina Espírita apresentava-se como uma
revelação imponente – o cristianismo ganhava novo e imenso
alcance. A Fé não mais se chocava com a razão. Tudo era percebido
de modo harmônico. A obra divina apresentava-se como um todo
coerente. As leis dos mundos físico e espiritual, poderiam sere analisadas pela razão e confirmadas por fatos.
A palavra do Cristo,
pensava ele, sob esse enfoque, submeterá os mais cépticos. A
mensagem espírita restaurará o Evangelho e o mostrará com um
aspecto moderno, grandioso e genuíno.
Passados mais alguns
dias, o superior procura Jean Michel e interroga:
- Bom dia Sr Michel! Onde estão os artigos com as objeções contra o Espiritismo?
- Não os aprontei, respondeu Michel.
- Porque?
- Não posso combater uma Doutrina verdadeira e moralizadora qual o Espiritismo.
- O que me diz??!!
- Sim a majestosa argumentação de O Espírito da Verdade nas obras espíritas representam o Consolador prometido por Jesus em João. Aliás os cadernos que o senhor me entregou para escrever o artigo, devolvo-os em branco e aproveito a oportunidade para devolver-lhe também a batina. De agora em diante sou um cidadão comum, não mais um sacerdote.
Jean passou a
frequentar grupos de estudos espíritas. Tornou-se economista,
casou-se e constituiu família.
Um belo dia, Elias
Sobreira ocupou a tribuna da instituição que frequentava. Este, de
modo caloroso, com vigoroso magnetismo, falava sobre as excelências
da Campanha do Quilo e da caridade.
Jean decidiu aderir à
tarefa de pedir a quem tem para dar a quem não tem.
Durante as campanhas,
passou a perceber as vibrações de Bezerra de Meneses, de seus
auxiliares e a ouvir poesias durante toda a execução do trabalho.
Certo dia, realizava a
campanha em favor das internas do Abrigo Espírita Batista de
Carvalho. Caminhava pelas ruas estreitas e pobres de uma favela
chamada Coque. Divisou um bar. Dirigiu-se para lá, adentrou;
observou alguns homens que conversavam e consumiam alguma bebida
alcoolica. Abordou um dos circunstantes com educação e laçou o
pedido:
“Em nome do mestre
Jesus, peço um donativo para as idosas internas no Abrigo Batista de
Carvalho”. O interpelado mostrou expressão de desagrado;
levantou-se – tratava-se de um homem atlético e alto. Com os
punhos cerrados e voz alta, ameaçou:
- Retire-se imediatamente da minha presença homem sem valor. Desocupado, enganador. Apresse-se para que eu não arrebente seus dentes.Algo assustado, mas atento as orientações da Campanha do Quilo, fez menção de retirar-se em atitude humilde, quando um outro dos presentes ergueu-se – desta feita um homem ainda mais musculoso e mais alto do que o anterior; proferiu palavras em tom de ordem:
- Volte aqui! Jean Michel guardava a convicção que sofreria violenta agressão.Para surpresa de todos, o homem acrescentou:
- Esse é o Dr. Jean Michel. Homem respeitado que está realizando uma nobre tarefa. Aliás ele está pedindo para as senhoras internas no A E Batista de Carvalho, entre as quais encontra-se sua mãe – ao proferir essas palavras apontava para o homem que havia ameaçado Jean Michel. Eu sou mecânico e o Dr. Michel é meu cliente. Conheço-o muito bem. É um homem honrado. Todos aqui vão colaborar com a campanha do quilo – inclusive você... - indicou novamente o homem que havia ameaçado Jean Michel.
Todos cooperaram. Sem
nenhum sinal de satisfação pela humilhação experimentada pelo
ameaçador, agradeceu a cooperação de todos em nome de Deus.
Prosseguiu com o trabalho de amor ao próximo sem agastamento.
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