segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Bem praticado com desinteresse.

"Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. Mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem segundas intenções. A mais meritória é a que se baseia na mais desinteressada caridade."
(O Livro dos Espíritos – 1ª Edição Comemorativa do Sesquicentenário – FEB – Tradução Evandro Noleto Bezerra)

Aparentemente a campanha do quilo tem poucas lições para nos transmitir. Um estudo mais atento, porém, mostra que pequenas peculiaridades podem indicar ensinamentos grandiosos no campo do cristianismo.

A ação de pedir, por exemplo, revela-se sublime. Por volta do ano de 1978, estava incumbido de organizar a semana do legionário da campanha do quilo. A Semana do Legionário é um evento que a Escola do Quilo realiza todos os anos em homenagem à data de fundação da instituição e consiste de palestras, entrevistas, debates e atividades de campanha do quilo.

Para proferir as palestras convidei vários oradores espíritas que participam e são comprometidos com a campanha. Um deles, a quem vou chamar de Estêvão, era um cidadão de poucos recursos e desempenhava a função de servidor público da mais humilde posição na hieraquia do órgão em que trabalhava. 

Em que pese sua situação profissional e os parcos recursos que recebia para sobreviver, Estêvão era um orador brilhante. A Casa dos Humildes foi o lugar indicado para que ele proferisse sua palestra. No dia aprazado, compareceram algumas dezenas de pessoas. Muitos dos circunstantes apresentavam-se bem trajados. O orador, porém, vestia-se com simplicidade.

A exposição foi repassada de uma sublime energia espiritual. Sábios conceitos foram emitidos em tom contagiante. Certamente, Estevão veiculou uma mensagem do alto. Uma frase enunciada pelo orador, dentre tantas de grande expressividade, permanece em minha memória: “Disse um pensador: se soubéssemos quão grande valor tem uma esmola, nós nos ajoelharíamos antes de a concedermos.”

De fato, a campanha do quilo nos ensina a pedir e a doar uma moeda, um pedaço de pão, alguns gramas de feijão, de modo desinteressado e anônimo. Em outras formas de doação é comum haver registros nominativos, o doador fica conhecido, com seu nome anotado na contabilidade da organização beneficiária. Nada contra; contudo, na campanha do quilo, os doadores são sempre anônimos.

A norma da campanha do quilo dispõe que ao final dos trabalhos, a arrecadação de todos os participantes é misturada formando um só total e aí sim é registrada em um formulário. Mas o nome dos benfeitores permanece desconhecido. Muitas crianças foram educadas em creches, por anos consecutivos, graças às arrecadações da campanha do quilo. O mesmo pode ser dito sobre os lares de velhinhos. Trata-se de meritória, desinteressada e anônima colaboração em favor dos necessitados.

Podemos concluir que a campanha do quilo é a prática institucionalizada que mais estimula a prática do bem desinteressado. Felizes os que entenderem e seguirem seus ensinamentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário