sábado, 19 de abril de 2014

Há um século


Homenagem dos legionários do quilo ao lançamento de O Livro dos EspíritosDo ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: 
Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do 
progresso,  porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da 
inteligência.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XXV – Item 2 

I 

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, 
acabrunhado.  Fazia frio. 

Muito embora a consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros, escasseava 
o dinheiro para a  obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe haviam colocado nas mãos. 

A pressão aumentava... 
Missivas sarcásticas avolumavam-se à mesa. Quando mais desalentado se mostrava, chega a paciente 
esposa, Madame Rivail – a doce Gaby –, a entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada. 

II 

O professor abriu o embrulho, encontrando uma carta singela. 
E leu: Sr. Allan Kardec: 
Respeitoso abraço. Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, 
rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois 
tenho fortes razões para isso. 

Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital.  Há cerca de dois 
anos casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal.Nossa vida corria normalmente e
tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoinette
partiu desta vida,  levada por sorrateira moléstia. 

Meu desespero foi indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo. 
Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas 
aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade... 

A prova da separação vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano. Faltava ao trabalho e 
meu chefe,reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa. Minhas forças fugiam. 

Namorara diversas vezes o Sena e acabei planeando o suicídio. Seria fácil, não sei nadar” – pensava. 
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o 
desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a Ponte Marie. Olhei em torno, contemplando a 
corrente... E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um objeto algo molhado que se deslocou da
amurada, caindo-me aos pés.  Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera. Tomei o
volume nas mãos e, procurando a luz mortiça de poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre 
irritado e curioso: Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. – A. Laurent.” 

Estupefato, li a obra O Livro dos Espíritos, ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que 
passo  às suas mãos  abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver.” 

Ainda constavam da mensagem agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente. 

O Codificador desempacotou, então, um exemplar de O Livro dos Espíritos ricamente encadernado, 
em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu 
com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra 
firme: Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. – Joseph Perrier.” 

III 

Após a leitura da carta providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro... 

Conchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim 
na pauta de radiosa  esperança. Era preciso continuar, desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e 
desconhecer as pedradas... 

Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo. 
Allan Kardec levantou-se da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública,
 onde passavam  operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos... 
O notável obreiro da Grande Revelação respirou a longos haustos e, antes de retomar a caneta para 
o serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima... 

Hilário Silva 
(Espírito)

Do livro O Espírito da Verdade – psicografado por Francisco Cândido Xavier – Edição FEB.

Um comentário:

  1. Hoje estou fazendo uma pesquisa para reforçar meus conhecimentos a respeito de " O livro dos espíritos" e quando se trata da carta de Joseph Perrier as datas não batem pois o lançamento da segunda edição foi em 18 de março de 1860, portanto Kardec não poderia ter recebido o embrulho de Joseph Perrier nesta data.
    Onde eu não concordo com a colocação do espírito Hilário Silva

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